terça-feira, 3 de outubro de 2023

Acordei hoje com tal nostalgia de ser feliz. Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma. Vivo numa dualidade dilacerante. Eu tenho uma aparente liberdade mas estou presa dentro de mim.

domingo, 1 de outubro de 2023

Estou ao Sul

Queria ter sinalizado antes para que quando você acertasse a rota, o risco de me atropelar fosse menor.
Mais não. 
Você veio de mansinho, eu não me preocupei no caminho, sem pressa, contando histórias de assombração, política e tesão.
Ganhou o meio de campo.
Desvelou o toque sob o sol quente e claro da manhã. 
Me alimentou. Me pegou pela mão, deu abrigo, partilha e me mostrou repertórios coleantes. 
Eu reagi.
Me inspirei, coração na mão, na boca, boca na boca, pulsação...
Foi tudo tão rápido, desse momento em diante que só vi quando tive que me acertar no sofá para não cair.
Levantar.
Respirar.
Chegar da janela para depois voltar aos seus braços mornos.
As horas passaram.
As bocas.
Sofreguidão.
Não pude deter seu último movimento, tudo contratempo.
Você sem direção.
Eu no chão.
Moída.
Calada.
Oprimida.
Gritei o último não.
Você não se importou, me atropelou.
Eu segui sozinha, na altura do chão.
Procurando a última esperança de me apoiar no meu próprio suspiro e sucumbir. Sucumbir talvez da sua vista, da minha vista, da história sem fim, sem começo, sem tinta, sem tela, sem nada em que me deixastes na altura do chão.