sábado, 4 de novembro de 2023

Quando alguém morre, há comoção. E esquecemos que a consciência só entrou na porta ao lado...

Hoje aconteceu.
Começou a acontecer, foi uma coisa engraçada.
Eu, quando fecho os olhos, começo a ver sombras nas coisas. Fecho de novo e vejo tudo como um filme antigo.
Tudo em sépia.
Com neblina, nebbia, nevoado, como se uma camada fina de fumaça tomasse conta de tudo (é mesmo um filme antigo?).
Será que morrer é mais ou menos assim? a cor vai se apagando... o vivo delas... tudo vai sumindo. O bonito de tudo.
A cor.
O som.
O cheiro.
O gosto.
Tudo que traz emoção vai se desconfigurando, sumindo.
Perdendo o sentido, se apagando. 
Acho que morrer é meio isso. 
Essa sensação de você fechar os olhos e continuar vendo tudo em câmera lenta, nublado, sem luz, sem força e sem vida.

Porque as coisas não morrem quando eu morro, morre apenas meu olhar em direção a elas. Morre esse sopro.

Esse meu sopro em direção a tudo que sinto e vejo.

Pra morrer e preciso fazer força?

Morrer doí (acho que nossa última dor, como nascer, que foi a primeira dor).

E toda dor é força.

Força que se junta e que se vai.

É preciso ser audaz para fazer força.

Porque se você não ousa, tudo cai por terra.

E a alma se entristece.

E o pulsar fica mansinho.

E acham se apaga.

Chama apagada perde a coisa bonita da vida. Das vontades.

não tem lado luz e nem lado sombra. É tudo a mesma coisa.

Só tem um amontoado de "eus" sem noção, tudo um ponto de interrogação... E a gente não sabe o porquê. Não sabe nada.

Só sabe que morreu. E o que resta é se entregar ao nada, ao vazio da imensidão. Eu não queria morrer velha. Eu quero morrer logo. Eu quero morrer logo? Será? Agora? Será o quê que eu quero? 

Acho que nem sei o quê. Só sei que quero ir.

Caminhar para algum lugar onde eu possa ouvir o silêncio. E só. Com o passar dos tempos, tenho querido estar no silêncio, cada dia mais.

Há uma vontade avassaladora de mais nada. Só dormir.

Quando eu acordo de manhã, dói.

Dói ver que acordo no mesmo quarto, na mesma cama, com as mesmas dores, olhando as mesmas persianas alaranjadas.

Dói.

Dói ter que pensar que a coluna vai doer quando eu virar na cama, pra levantar, dói se eu estico a perna e me movo lentamente para a frente e para a direita. E quando levanto.

Passo o dia com dor.

Algo me lembrando que carreguei peso demais.

Todo o peso. Sozinha. De criar filho e de me criar.

Todo o peso de escolhas que me levaram a um lugar onde eu mesma não quis estar (pelo menos sozinha não!).

Não achei que fosse tão pesado.

E não achei que todo esse peso carregado, se reverteria a tanta dor.

Essa dor não me cansa de lembrar.

Essa dor não me deixa esquecer.